Emma Becker decide tornar-se prostituta por dois grandes
motivos, pelo permanente fascínio que sempre sentiu pelas prostitutas e para
escrever sobre o assunto, sobre elas, sobre si e sobre o fascínio por elas.
Confesso que fiquei surpreendida pela respeitabilidade e
seriedade com que este livro tem sido apresentado, não porque achasse, à
partida, que não o merecesse, mas porque até aos dias de hoje, a profissão mais
antiga do mundo, não ganhou respeitabilidade. Emma teve as mesmas dúvidas,
“Quão precária me parecia a minha situação! Os meus objetivos nobres, a minha
ideia de superar o bordel haviam-se esfumado, deixando apenas lugar para a
verdade nua e crua a que nem eu nem as pessoas que me rodeiam poderíamos
escapar: tinha trabalhado num bordel. Bem podes escrever todos os livros que
quiseres, eis a única coisa que reterão do teu CV, sua espertalhona.”. Mas
depois de o ler, não há como não o respeitar ou levar a sério.
“A Casa” está soberbamente bem escrito. De cima dos seus 31
anos, Emma apresenta uma escrita culta, inteligente em vários sentidos,
cativante, envolvente e riquíssima em tantas análises do mundo, da sociedade,
do ser humano, do ser mulher. Fiquei assombrada com a magnitude com que a
mulher é apresentada. Somos tão dignificadas neste livro, somos tão
respeitadas… e sim, somos todas, acreditem… ao demonstrar todos os clichés
daquilo que uma prostituta é, e ao acrescentar-lhes tantas dimensões quantas
aquelas que julgamos impossível, Emma eleva a nossa beleza, sensualidade e
complexidade.
E que fique claro que eu não elevo este livro, porque acho a
experiência cool, ou mega atual, ou hipster ou porque promove a
legalização da prostituição (até porque acho que não promove e eu nem tenho uma
opinião completamente formada sobre isso). Não!! Elevo “A Casa” pela forma como
Emma decidiu escrever a sua experiência; elevo-o porque não possui uma única
generalização, não possui um único lugar-comum. Elevo-o porque na sua demanda,
Emma só se quer descobrir e compreender, e fá-lo com tanto amor pelas mulheres
que, para mim, deixa uma sensação de que nos devemos pura e simplesmente aceitar
e viver felizes com a nossa grandeza.
“Não consigo reler nem um dos meus livros sem me aperceber de que só escrevei sobre mulheres. Sobre o facto de eu própria ser uma e sobre as inúmeras formas de que ser mulher se reveste. E será, sem dúvida, a obra da minha vida: matar-me a querer descrever este fenómeno, aceitando a sensação de que em algumas centenas de páginas só avancei meio centímetro e procurando ficar satisfeita com esse meio centímetro como se de uma importante descoberta se tratasse.”
Casa das Letras
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