terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai () Jenny Erpenbeck


Li mais de metade deste livro num dia de sol de inverno de frente para o mar. Um dia de um magnífico pôr do sol, um dia de paz, um dia perfeito, um dia fácil... porque é que não pode ser um dia fácil para todos?

"... a respiração de um planeta é muito mais lenta que a respiração de qualquer ser humano. Se vestirmos calças e casacos de uma loja de roupa doada, uma camisola de marca, um vestido caro ou barato, ou um uniforme com capacete e viseira, por baixo dessa roupa estamos sempre nus e, se tudo correr bem, teremos tido prazer em estar ao sol ou ao vento, na neve ou na água, em ter comido ou bebido isto ou aquilo, talvez em termos amado alguém e em termos sido amados, antes de morrermos. O que no mundo cresce e flui é mais do que suficiente para todos..."

O fotógrafo Sebastião Salgado zangou-se com a humanidade depois do seu périplo por África, acredito que Saramago estava zangado com a humanidade quando escreveu o Ensaio Sobre a Cegueira. Lembrei-me destes dois exemplos enquanto lia este livro porque é muito fácil entender e sentir essa zanga quando o lemos.

Aquilo que podemos dizer sobre a história deste livro é quase um lugar comum (infelizmente), os imigrantes/refugiados que procuram o continente Europeu trazem com eles histórias de amor pela terra natal misturadas com a  sensação de miséria e em muitos casos com traumas de episódios violentos. Mas acrescento que nós, Europeus de pele clara, somos literalmente uns copos de leite ao pé desta resiliência em forma de gente... Quantos dias teríamos aguentado aquele caminho?? 

Não há soluções fáceis para este flagelo, mas que temos uma cota parte de responsabilidade nas causas de tudo isto não há dúvida. Agora temos as consequências no nosso país, na nossa cidade, no nosso banco de jardim e somos chamados a ter responsabilidade sobre elas. No fundo no fundo estão a obrigar-nos a ser adultos e isso é uma chatice. 

É assustadora a violência que existe em tudo, em todo o lado ao mesmo tempo. Talvez faça sentido uma frase que ouvi uma vez num documentário sobre a nossa espécie: "Nós, os que cá estamos agora, somos os filhos dos assassinos."


259 páginas

Relógio D'Água