segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Tudo É Rio # Carla Madeira


Acho, com alguma certeza, que quando descrevemos ou classificamos as pessoas com base nos constantes e eternos julgamentos do bom ou mau, do certo ou errado, tudo fica sem cor. 
Está lá o Branco, com a pureza, a virgindade, a correção dos modos, com o que é aceite... Fica reservado para o Preto tudo o resto, tanta coisa... Nem é só, aquela famosa gigante zona cinzenta que se perde, perdem-se todas as cores, todas as possibilidades de ver beleza em sítios diferentes. 
Carla Madeira tem todo um arco-íris no seu rio, a tranquilidade azul da tia Duca, a luxúria vermelha de Lucy, a luz dourada de Aurora, a ternura rosa de Dalva... 
É um livro/rio cheio de vida, de querer viver, e isso tem sempre cor. É um rio maravilhoso.

"Aprendeu que a verdade não tem dono, que é duro demais existir e que ninguém precisa de ajudar ninguém a sofrer. O sofrimento vem sozinho, tem pernas, mais cedo ou mais tarde ele aparece; o que a gente tem de buscar é a alegria, essa esconde-se delicada na correria dos dias, não se oferece de pronto, quer ser encontrada, surpreendida, amada."

"Algumas vezes as mudanças acontecem na marra. Uma guilhotina afiada corta as nossas mãos, e todas as rédeas escapam. É o que pensamos ter acontecido, até que a gente se dá conta de que nunca houve rédeas. Ninguém monta na vida. Brincamos de escolher, brincamos de poder conduzir o destino. Precisamos dessa ilusão para viver os dias de antes, dias em que podemos tudo só porque pensamos poder, e então a vontade do que está fora da gente joga a sua sombra densa e pegajosa. Ficamos prisioneiros do que não queremos muito antes de morrer."

194 páginas
Particular