O feminismo sempre foi um tema complexo…
“as feministas radicais queriam
áreas exclusivas para as mulheres, que constituiriam uma zona autónoma autorregulada
as feministas radicais lésbicas queriam
áreas separadas das feministas radicais não lésbicas, as quais constituiriam
uma segunda zona autónoma autorregulada
as feministas radicais lésbicas negras queriam o mesmo, com a ressalva adicional de não entrarem lá brancos fossem de que género fossem”
… porque basicamente as mulheres
nunca se conseguiram entender.
Por continuar a ser um tema tão atual e tão necessário, confesso que fiquei um bocadinho chateada quando percebi que esta crispação feminina estava muito presente no livro, confesso que senti alguma desilusão por muitas das mulheres presentes usarem a sua individualidade carregada de competitividade e ego como o caminho para nunca parar de lutar.
Tal como Carole que esperava ver
uma peça “sobre a primeira mulher negra a ser eleita primeira-ministra do Reino
Unido, ou a ganhar um Nobel na área da ciência, ou sobre uma mulher negra que
tivesse subido a pulso para se tornar bilionária, ou sobre outra qualquer que
se pudesse considerar um símbolo de sucesso de mais alto nível conquistado de
forma legitima” e que viu uma peça de “guerreiras lésbicas que andam pelo palco
feitas machonas e que se apaixonam todas umas pelas outras”… também eu estava à
espera, neste livro, de mulheres que apesar de todas as dificuldades não
conseguissem olhar o mundo, a vida e os outros, com outros olhos que não fossem
a empatia em cada momento…
Convenhamos que essas mulheres (ou
qualquer outro ser humano) não existem, convenhamos que não tenho o direito de criticar
o caminho que, estas mulheres sofridas, escolheram para conseguirem ter a cabeça
fora de água, convenhamos que o livro é tão real e humano tanto quanto a realidade
e a humanidade o é.
No fim do livro não acompanhei a desilusão de Carole com a peça, fiz as pazes com o livro e consegui ver nele a beleza da diversidade feminina e a inteligência com que muitas perspetivas foram interligadas. Gosto do confronto das novas perspetivas com as antigas:
“ouço falar em feminismo e penso logo em carneirada (…) ser mulher já está fora de moda (…) no futuro vamos ser todos não binários, não vai haver homens nem mulheres, aliás os géneros masculino e feminino são construções sociais, ou seja, (…) o teu feminismo está redundante”
“os privilégios são relativos e
contextuais, (…) achas que o Obama [por ser preto] é menos privilegiado do que
um parolo americano que cresceu num parque de atrelados filho de uma mãe
solteira e toxicodependente e de um pai sempre a ir a vir da prisão? E será uma
pessoa com um grau elevado de incapacidade é mais privilegiada do que um sírio
que foi torturado e anda à procura de asilo político?”
470 páginas
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