É quando leio
livros como este que confirmo, em mim, a certeza do quanto é mais fácil e ao
mesmo tempo fascinantemente maravilhoso ser o outro pela leitura. Em livros tão
intrinsecamente expostos como este, sentimos a pele, o cheiro, a alegria, a felicidade,
a tristeza, a solidão… com toda a real relatividade com que elas aparecem na
vida de qualquer um de nós.
“O problema é que
não quero que me retirem a minha tristeza, tal como não quero que me retirem a
minha alegria. São ambas minhas. Fui eu que as fiz, que diabo. E se a euforia
que sinto não for apenas um “episódio bipolar”, mas algo pelo qual lutei
bastante? Talvez eu comece a saltar e te beije com demasiada força no pescoço
quando regresso a casa e descubro que é noite de piza, porque às vezes uma
noite de piza é mais do que suficiente, é o meu mais fiel e frágil ponto de
referência. E se afinal corro para a rua, porque a Lua nesse dia parece saída
de um livro para crianças, pairando, enorme e ridícula, acima da fileira de
pinheiros, como se fosse uma estrada esfera medieval?”
“Cão pequeno”
decide escrever uma carta à mãe, mas a mãe não sabe ler, mas a mãe não sabe
inglês… mesmo assim o “Cão pequeno” escreve esta carta, que é este livro, cheia
de tudo, e tudo com muita honestidade… a carta não tem só episódios e
sentimentos, a carta tem vida em toda a sua essência, tem pessoas em
toda a sua complexidade… a carta tem muito amor e um buraco grande e preto
no lugar perda…
“”Eh”, disse,
quase a dormir, “o que eras antes de me conheceres?”
“Acho que era alguém
prestes a afogar-se.”
Uma pausa.
“E o que és
agora?”, sussurrou, cedendo ainda mais ao sono.
Pensei por
instantes. “Água.””
Relógio de Água
215 páginas
215 páginas
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