sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Na Terra Somos Brevemente Magníficos ∩ Ocean Vuong



É quando leio livros como este que confirmo, em mim, a certeza do quanto é mais fácil e ao mesmo tempo fascinantemente maravilhoso ser o outro pela leitura. Em livros tão intrinsecamente expostos como este, sentimos a pele, o cheiro, a alegria, a felicidade, a tristeza, a solidão… com toda a real relatividade com que elas aparecem na vida de qualquer um de nós.
 
“O problema é que não quero que me retirem a minha tristeza, tal como não quero que me retirem a minha alegria. São ambas minhas. Fui eu que as fiz, que diabo. E se a euforia que sinto não for apenas um “episódio bipolar”, mas algo pelo qual lutei bastante? Talvez eu comece a saltar e te beije com demasiada força no pescoço quando regresso a casa e descubro que é noite de piza, porque às vezes uma noite de piza é mais do que suficiente, é o meu mais fiel e frágil ponto de referência. E se afinal corro para a rua, porque a Lua nesse dia parece saída de um livro para crianças, pairando, enorme e ridícula, acima da fileira de pinheiros, como se fosse uma estrada esfera medieval?”
 
“Cão pequeno” decide escrever uma carta à mãe, mas a mãe não sabe ler, mas a mãe não sabe inglês… mesmo assim o “Cão pequeno” escreve esta carta, que é este livro, cheia de tudo, e tudo com muita honestidade… a carta não tem só episódios e sentimentos, a carta tem vida em toda a sua essência, tem pessoas em toda a sua complexidade… a carta tem muito amor e um buraco grande e preto no lugar perda…
 
“”Eh”, disse, quase a dormir, “o que eras antes de me conheceres?”
“Acho que era alguém prestes a afogar-se.”
Uma pausa.
“E o que és agora?”, sussurrou, cedendo ainda mais ao sono.
Pensei por instantes. “Água.””
 

 

Relógio de Água
215 páginas 

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