segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

O enigma do quarto 622 ∞ Joël Dicker

 


Este é o segundo livro que leio de Joël Dicker (comecei pelo “A verdade sobre o caso Harry Quebert”) e em ambos senti o mesmo. Assim que comecei senti que estava a entrar numa montanha russa desconhecida que me surpreendia em cada curva com emoções fortes. Eu não gosto particularmente de montanhas russas e por isso fazendo o paralelismo poder-se-ia dizer que também não gostei de ler os livros. O único aspeto que me incomodou em todo o processo foi o facto de eu sentir que estava presa naquela cadeira da montanha russa, como se eu não conseguisse sair dali. Mas é claro que conseguia sair, bastava fechar o livro… mas não era possível… os livros foram, para mim, tão absolutamente viciantes, que a opção de fechar o livro foi algo tão absurdo como saltar de uma cadeira de uma montanha russa em andamento… e por esse motivo, tanto o primeiro como o segundo foram lidos em pouco mais que um par de dias.

 
Joël Dicker tem uma criatividade e uma capacidade em entrelaçar histórias acima do que é considerado normal e neste livro, em particular, para além de apresentar um grande mistério, aproveitou também para homenagear o seu falecido editor Bernard de Fallois, sendo ele próprio uma personagem do livro e partilhando algumas das conversas que teve com Bernard.


“Ela rasgou o papel em volta do espesso volume: era um exemplar de E Tudo o Vento Levou.
– Era um dos livros preferidos do Bernard – expliquei-lhe. – Contou-me que o leu durante a guerra, teria uns treze ou catorze anos, e, ao fugir de carro com a mãe e o irmão, foi a ler o E Tudo o Vento Levou no banco traseiro. Corria o boato de que a aviação italiana estaria a bombardear as colunas de civis, e o Bernard, mergulhado na leitura, só desejava que uma explosão não o matasse antes de acabar o livro. Para ele, tratava-se de um grande romance.
– O que é um grande romance? – perguntou Scarlett.
– Segundo Bernard, um «grande romance» é um quadro. Um mundo que se oferece ao leitor, para depois o engolir numa imensa ilusão construída em pinceladas. Se o quadro mostra a chuva, sentimo-nos molhados. Uma paisagem glacial e coberta de neve? Damos por nós a tiritar de frio. E ele dizia: «Sabe o que é um grande escritor? É um pintor, nem mais. No museu dos grandes escritores, do qual os bons livreiros possuem a chave, há milhares de telas à nossa espera. Se lá entrarmos uma vez, nunca mais quereremos sair.»”

 

Alfaguara

610 páginas

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