É
fácil perceber que este livro é uma alegoria que, ao apresentar uma revolução
dos animais da quinta à ditadura implementada pelos humanos, mais do que
crítica, descreve de forma bem real e crua, o sistema a União Soviética
comunista…
Mas
vai também mais longe e pode ser aplicado em tantos outros contextos. Sejamos
realistas, também a democracia nasceu com a verdade de que “todos os animais
são iguais” e neste momento “todos os animais são iguais mas alguns animais são
mais iguais de que os outros”.
O
problema não é o comunismo ou a democracia, o problema é aquilo que o homem faz
com isso ao longo do tempo. O ser humano é dado ao ócio e à preguiça quando o
pode ser. Cada ser humano usa umas lentes únicas para ver o mundo e tentar
colocar as lentes de outra pessoa dá trabalho, dá muito trabalho. E o
verdadeiro problema é que, para além do trabalho que dá, na maioria dos casos
ainda prejudica o nosso conforto – o nosso conforto material e o nosso conforto
chamado consciência.
Como
é que vamos conseguir manter na nossa cabeça as meias verdades que justificam e
nos fazem acreditar que temos o direito de ter ordenados de milhões de euros,
garagens com mais de trinta carros, mais de dez mansões espelhadas pelo mundo,
fronteiras fechadas, escravos sexuais e/ou infantis… se usarmos as lentes dos
outros (uma capacidade fantástica que o ser humano possuí e a que se dá o nome
de empatia) para ver o mundo?
Se
cada um de nós fizer um esforço para ver o mundo pelos olhos dos que estão
abaixo de nós socialmente/economicamente e/ou em situação vulnerável o
principal problema vai ser nosso… porque isso vai mexer com o conforto, com o
nosso conforto, muito nosso. E quanto mais alto estivermos mais teremos que
abdicar mas a boa notícia é que também podemos fazer mais pelos outros.
Para
mim a frase “todos os animais são iguais mas alguns animais são mais iguais de
que os outros” está mal deste o início. “Não, nós não somos todos iguais, mas
somos todos pessoas” e temos os mesmos sentimentos, os bons, os maus, todos
intensos, e precisamos todos do mesmo, de muito pouco.
“Doze
vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora,
quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de
um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem
outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era
porco.”
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