Uma celebração à mediocridade, à ausência de autocrítica e à
ausência de empatia que só se torna suportável e até divertida porque se
conclui (espero que não erradamente) que tudo é uma ironia.
A incapacidade de autoanálise e auto culpa em George, Harry
e Jerome em todas as experiências que lhes correm mal é uma oportunidade de
reflexão para nós… leitores.
Será que depois de lermos a mesma experiência relatada, pela
mesma pessoa das duas perspetivas o mais opostas possíveis, de forma arrogante
e cheia de razão, somos capazes de admitir que somos também capazes de o fazer?
Será que depois de lermos a validação de se ser snobe
através da utilização da moral, dos bons costumes e das caraterísticas estereotipadas
dos restantes grupos sociais, sentimos que é errado fazê-lo?
Pelo menos parece-me difícil não notar que este desafio está
presente no livro.
Mas… talvez esteja a fazer uma análise demasiado séria de
uma história recheada de episódios mirabolantes que nos arrancam muitos
sorrisos e algumas gargalhadas… Só por isso já vale a pena lê-la.
Escolhi um excerto que não me agrada particularmente… e
escolhi-o exatamente por isso!!
“De todas as aventuras ligadas à sirga, a mais excitante é
ser-se rebocado por raparigas. É uma sensação que ninguém deve perder. São
sempre necessárias três raparigas para sirgar; duas seguram no cabo e a
terceira corra às voltas a dar risadinhas. Geralmente, começam por enrolar o
cabo. Ficam com a corda enrolada nas pernas e têm de se sentar no caminho para
se desenrolarem umas às outras, e depois embrulham-se nela praticamente até ao
pescoço e quase são estranguladas. Finalmente lá conseguem esticar a sirga e
começam a puxar o barco, como se fosse uma corrida, a uma velocidade deveras
perigosa. Claro que ao fim de uns cem metros estão sem fôlego, param de
repente, e sentam-se na relva a rir à gargalhada. Enquanto isso, o barco
escapa-se e volta à deriva para o meio da corrente e dá uma volta, antes de
termos tempo de perceber o que é que aconteceu ou de pegarmos num remo. E aí
elas levantam-se com um ar surpreendido.”
224 páginas
Alma dos livros
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