A capacidade de nos conectarmos com pessoas que acabamos de conhecer
de uma forma única e profunda que nos conforta e aquece o ser que somos e ao
mesmo tempo a frequência com que olhamos para os que diariamente nos rodeiam e
nos sentimos um ser estranho, deslocado, exterior…. como se o lugar ao sol não
fosse só um lugar fosse também uma companhia.
Mais do que um contador de histórias, Haruki Murakami é um
contador de pessoas (já o disse antes) e tem uma tão grande capacidade e coragem
de escrever pessoas tão banais, tão reais, tão cheias de fragmentos de nós, que
quando mergulha dentro delas, é dentro de nós que ele mergulha.
Perder amigos porque decidem por termo à vida, perder familiares
porque foram consumidos por uma doença, perder um sonho porque temos uma lesão…
a melancolia e o vazio da incerteza que acompanha as suas personagens
obriga-nos a vivê-las de uma forma natural e permanente porque são acima de
tudo parte de nós.
Não há juízos de valor sobre qual o melhor caminho a seguir, não
há pessoas completamente cheias de razão sobre tudo, mas existe aquela sensação
de um leve empurrão para a frente para seguires o caminho, o TEU caminho.
“O pirilampo esvoaçou para o ar bastante tempo depois, como se
tivesse ocorrido de repente. Abriu as asas e voou rapidamente por cima do
corrimão até flutuar na palidez da escuridão. Delineou um célere arco ao lado
do depósito de água, como se tentasse recuperar um intervalo de tempo perdido.
Por fim, após pairar durante uns escassos segundos como se observasse a linha
curvada da sua própria luz a fundir-se com o vento, esvoaçou para leste.
O rasto da sua luz permaneceu dentro de mim bastante tempo depois
de o pirilampo ter desaparecido e essa sua pálida e ténue luminosidade
continuava a pairar como uma alma perdida na espessa escuridão por trás das
minhas pálpebras.
Tentei várias vezes estender a mão na escuridão, mas os meus dedos
não tocavam em nada. O ténue brilho perdurava, mas estava para além do meu
alcance.”
“«A morte existe, não como o contrário da vida mas como parte
dela». Nutrimos a morte enquanto vivemos as nossas vidas. Por verdadeiro que
isto fosse, era apenas uma das verdades que tínhamos de aprender.”
“-Não sintas penas de ti próprio. Somente as idiotas agem assim.”
350 páginas
Civilização
Editora
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