Que devastação Deus (seja ele qual for)!
Que os livros nunca deixem de me surpreender (seja por terem histórias fantásticas, por estarem melodiosamente bem escritos, por passarem mensagens importantes ou por qualquer outro motivo).
"Para Onde Vão os Guarda-Chuvas" tem poesia para lá do título e tem personagens que se agarram a nós pela sua vontade de não serem notadas. Tem tristeza, muita tristeza, ou melhor, talvez o mais correto seja dizer que deixa tristeza a quem o lê (pelo menos a mim). É uma tristeza bela e resignada e é daí que vem a devastação. É uma devastação enorme (há alguma devastação que não seja enorme?) que só pode trazer resignação. É uma resignação triste que nos faz entrar numa pescadinha de rabo na boca ou na busca infinita do cão pela sua cauda ou num "rodar perpétuo até àquele lugar impossível que é Deus, para o crente".
Afonso Cruz é apaixonado por histórias de buscas que levam ao ponto de partida, "Toda a gente, quando viaja, não faz senão o mesmo que este cão que vê aqui a perseguir o rabo. Dá voltas pelo mundo para se ver a si e, quando não consegue, volta a tentar, viaja mais."
A miragem é aquele equilíbrio entre procurar longe ou perto, entre a ação e inação, entre a escarlatina e a transparência, entre a indecisão e a decisão.
"Isa, disse ele."
588 páginas
Companhia das Letras
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