Eu não sou nenhuma especialista em literatura ou em escrita, mas consigo perceber a diferença de energia entre livros de tempos diferentes.
Assim como nós analisamos e categorizamos a escrita de séculos
mais antigos ou mesmo a escrita do século passado, acredito que a escrita de
hoje também será analisada e categorizada. E pergunto-me, o que dirão sobre
ela?
Eu adoro o embalo da escrita contemporânea, esta, cada vez
mais frequente, forma de escrever poesia em forma de prosa, essa bonita forma de
dizer tanto dizendo tão pouco de forma clara.
“Miesel tem uma superstição: no bolso das calças de ganga,
leva sempre uma peça de lego, amais comum, a que tem dois por quatro botões,
vermelha-viva. Provém da muralha do castelo que ele e o pai construíram no seu
quarto, quando era pequeno. Houve o acidente, na obra, e a maquete ficou por
acabar, pero da sua cama. O menino observava amiúde, silencioso, as ameias, a
ponte levadiça, as figuras, a masmorra. Continuar sozinho a construção do edifício
teria sido equivalente a aceitar a morte, portanto mais valia desmontá-lo. Um dia,
soltou um tijolo da muralha, enfiou-o no bolso e desmontou o castelo. Isto há
trinta e quatro anos.”
“A Anomalia” é um livro viciante, que nos agarra desde a
primeira página até à última. A ideia do livro é brilhante e, com uma escrita
deliciosa, ficamos agarrados à vida dos passageiros de um específico voo Paris –
Nova Iorque. Não se pode escrever muito sobre o livro sem ser spoiler e por
isso nada melhor do que o ler… vale mesmo a pena.
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