Recebi este livro como presente de Natal há uns anos, mas
depois de ler algumas páginas fechei-o sem forças para o ler… a maldade e a
morbidez deixam-me mal disposta e embora goste de ler livros que desafiam as
minhas sensações, achei que este era uma provação…
Em 2015 saiu o filme… e mais uma vez fugi da
história… Mas este ano ao ser recordada que o Óscar de melhor atriz foi dado à
Mamã deste filme ganhei coragem e voltei a pegar nele.
Mas usufruindo do segundo direito do leitor (de Daniel
Pennac): “O direito de saltar páginas”, só peguei no livro para ler o depois… a
vida depois de sair do quarto.
Não acho extraordinário o amor que existe entre esta mãe e
este filho, nem acho extraordinário a capacidade de adaptação e de
sobrevivência que o Jack demonstra. E quando digo extraordinário refiro-me a
ser fora do normal, não, não é fora do normal… as crianças felizmente têm uma
capacidade de uma sobrevivência saudável completamente fora do normal… e o
amor… é o amor incondicional que felizmente a grande maioria das mães e filhos
conseguem sentir, é aquele amor que faz com que as mães abram mão de muita
coisa a pensar no bem-estar dos seus filhos e faz com que os filhos olhem para
as mães como as mulheres mais bonitas do mundo e a melhor pessoa com quem se
pode estar.
O que eu acho extraordinário é a força com que a palavra
recomeço surge associada a estes sentimentos… A beleza das personagens e a
beleza da relação que está escrita de uma forma que nos apela aos sentidos
mostra-nos que cada hora, cada dia, cada semana fora do quarto ou no mundo é um
passo que se dá, é um degrau que se sobe, é algo que se conhece.
É incrível que depois de uma história destas fiquemos com a
forte sensação colada dentro de nós de que tudo é um milagre em vez de
acreditarmos que não há milagres.
“No mundo, reparo que as pessoas estão quase sempre
enervadas e não têm tempo. Até a Avó diz isso muitas vezes, mas ela e o Avô
Emprestado não têm empregos, por isso não sei como é que as pessoas com
trabalhos conseguem trabalhar e também vier. No Quarto eu a Mamã tínhamos tempo
para tudo. Se calhar o tempo espalhado pelo mundo fica muito fino como
manteiga, espalha-se pelas entradas e pelas casas e pelos parques infantis e
pelas lojas, por isso só existe uma pequena mancha de tempo em cada sítio e
depois têm todos de se apressar para o próximo sítio.
Além disso, onde quer que veja crianças, os adultos quase
nunca parecem gostar delas, nem sequer os pais. Dizem que as crianças são
lindas e tão queridas, fazem com que a criança faça tudo de novo para tirarem uma
fotografia, mas na verdade não querem brincar com elas, preferem beber café e
falar com outros adultos. Por vezes, uma criança pequena está a chorar e a Mamã
dela nem sequer a ouve.”
332 páginas
Porto Editora
Nenhum comentário:
Postar um comentário