Não há ninguém que escreva como Mia Couto, eu confesso e
admito que não devo conseguir entender metade da profundidade que este grande
escritor coloca nas suas histórias. Talvez porque me falta viver muito, ou
talvez porque não sinto o mágico continente africano da forma como ele o sente.
Este cenário que se repete nos seus livros e que nos prende à terra com a sua
força, a sua poeira, o seu calor, a sua exuberância e a sua indescritível
beleza também faz as pessoas que vivem nele.
No entanto, reconheci em Jesusalém o abismo que nos visita
(a todos) em algum momento da vida. A forma como podemos mascarar o sofrimento e
deixar de viver para não sofrer. Jesusalém é esse sítio desencantado, onde não se sofre para
não se viver, onde se espera que Deus entre e peça desculpa.
Eu não gosto de histórias tristes ou pelo menos de histórias
sem esperança, e se gosto desta história, é porque os apontamentos de luz
iluminam tudo o resto.
“De súbito me golpeou uma imensa saudade de Noci. Talvez vá
ter com ela mais cedo do que pensava. A ternura daquela mulher me confirmava
que meu pai estava errado: o mundo não morreu. Afinal o mundo nunca chegou a
nascer. Quem sabe eu aprenda, no afinado silêncio dos braços de Noci, a
encontrar a minha mãe caminhando por um infinito descampado antes de chegar à última árvore.”
285 páginas
Caminho
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