Sobre o autor limito-me a corroborar a opinião de um grande
amigo meu e da opinião pública de que se trata de um negativista, estando as
suas características de provocador, fatalista e pessimista presentes neste
livro.
O livro apresenta-nos a narrativa de vida de Daniel1 que vai
sendo lida e complementada por dois dos seus clones Daniel24 e Daniel25 que
existem 1000 anos depois. Daniel24 e Daniel25 são já chamados neo-humanos
devido a algumas alterações físicas que foram sendo feitas com o objectivo de
melhorar a autonomia e sustentabilidade da espécie acabando por retirar alguma
da “angustia” do ser humano.
Confesso que não me identifico com posturas negativistas,
reconheço que existe uma luta constante entre o mal e o bem, provocada essencialmente
pelo ser humano, mas no fundo tenho a esperança que no final o bem vencerá,
aliás, na minha opinião, o bem vem vencendo desde sempre, basta olharmos para
aquilo que fomos e que somos.
No entanto, gosto de ler livros futuristas que consigam
apresentar uma teoria para a nossa evolução que tenha, no mínimo, um fio
condutor.
Mas voltando á obra… Michel Houellebecq apresenta-nos a
humanidade dos nossos dias de uma forma crua e nada bonita, não deixa de ser
realista mas é duvidável a generalização que pretende transmitir. Em certos
momentos aparecem raios de luz no meio de uma descrição tão cinzenta mas,
contra minha vontade, acabam por desaparecer algumas páginas depois.
A humanidade e neo-humanidade que existem um milénio depois,
estão imensamente separados física, psicológica e comportamentalmente. Não vou
adiantar muito sobre esse futuro longínquo, uma vez que vai sendo desvendado ao
longo do livro e suscita a nossa curiosidade mas não resisto a colocar um
pedaço das divagações de Daniel25:
“Por vezes, de noite,
levanto-me para observar as estrelas. Transformações climáticas e geológicas de
grande extensão remodelaram a fisionomia da região, como a da maior parte das
regiões do mundo, durante os dois últimos milénios; o brilho e a posição das
estrelas, o seu agrupamento em constelações são sem dúvida os únicos elementos
naturais que, desde o tempo de Daniel1, não sofreram nenhuma transformação.
Acontece-me, quando à noite observo o céu, pensar nos Eloim, nessa estranha crença
que viria afinal, por portas travessas, a desencadear a Grande Transformação.
Daniel1 revive em mim, o seu corpo sofre uma nova encarnação, os seus
pensamentos são os meus, as suas recordações as minhas; a sua existência
prolonga-se realmente em mim, bem mais do que qualquer homem alguma vez sonhou
prolongar-se através da sua descendência. No entanto, a minha própria vida,
como muitas vezes penso, está muito longe de ser a que ele teria gostado de
viver.”
393 páginas
Dom Quixote
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