Mais uma vez Yann Martel, mais uma vez um grande livro.
Yann Martel tem o hábito de preencher os seus livros com personagens que têm a capacidade de mostrar o que o ser humano tem de melhor, pior e mais estranho.
Não, não é uma história bonita, a Beatriz com a sua doçura e o Virgílio com a sua energia retratam-nos extraordinariamente bem o Holocausto.
Na realidade o livro tem duas histórias, a de Beatriz e de Virgílio que em alguns momentos é simples, noutros romântica e infelizmente assustadora, e a do taxidermista que os embalsamou, uma personagem misteriosa absolutamente negra e Henry um escritor sem inspiração.
Deixo-vos excertos da melhor descrição que eu já li sobre uma pêra:
“VIRGÍLIO: Uma pêra madura transborda de suculência doce.
BEATRIZ: Oh, isso parece bom.
VIRGÍLIO: Corta uma pêra e verás que a sua polpa é de um branco incandescente. Brilha com uma luz interior. Aqueles que trazem consigo uma faca e uma pêra nunca têm medo do escuro.
BEATRIZ: Tenho de provar uma.
VIRGÍLIO: A textura de uma pêra, a sua consistência, é outra coisa difícil de pôr em palavras. Algumas peras são um tudo-nada crocantes.
(…)
VIRGÍLIO: O sabor de uma pêra é tal que, quando se come, quando os nossos dentes mergulham na beatitude da polpa, isso torna-se uma actividade absorvente. Não se quer fazer mais nada além de comer a nossa pêra. Prefere-se estar sentado do que em pé. Prefere-se estar só do que acompanhado. Prefere-se o silencio à música. Todos os sentidos, excepto o paladar, ficam inactivos. Não se vê nada, não se ouve nada, não se sente nada… ou apenas na medida em que nos ajude a apreciar o sabor divinal da nossa pêra.”
Editorial Presença
169 páginas
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