Um livro duro e brutal que nos faz sentir, através das suas ricas e excelentes descrições, o quanto o deserto é impiedoso e cruel mas ao mesmo tempo profundamente marcante e viciante.
A intensidade do sol, a força do vento e a beleza da noite são as características do deserto que mais castigam mas ao mesmo tempo fascinam as personagens deste livro.
Nour e Lalla são dois jovens, descendentes da mesma tribo, separados por várias décadas. Ao longo da sua infância sofrem algumas privações iguais e outras diferentes, mas ambos constroem uma ligação imensa com o grande mar de areia.
Nour percorre o deserto seguindo alguém que venera à procura “de uma terra, de um rio, de um poço onde pudessem instalar as suas tendas e armar os currais para as ovelhas”.
Lalla viu o pior de Marselha e mesmo assim conseguiu conquistar o seu lugar ao sol… mas o sol q ela queria não era esse, era o mesmo que iluminava Hartani…
“À frente deles, a terra muito plana estendia-se como o mar, cintilante de sal. Ondulava, criava as suas cidades brancas com muralhas magníficas, com cúpulas que rebentavam como bolhas. O sol queimava-lhes as caras e as mãos, a luz causava vertigem, quando as sombras dos homens são iguais a poços sem fundo.
Todas as tardes, os lábios sangrentos procuravam a frescura dos poços, a lama salobra das ribeiras alcalinas. Depois a noite fria abraçava-os, quebrava-lhes os membros e a respiração, punha-lhes um peso na nuca. Não havia fim para a liberdade, ela era tão vasta como a extensão da terra, bela e cruel como a luz, doce como os olhos de água.”
Prémio Nobel de Literatura 2008
Dom Quixote
312 páginas
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