O que posso dizer sobre José Luís Peixoto? Posso dizer que no momento é o meu escritor português preferido.
Embora tenha gostado muito do “Nenhum Olhar”, foi “Cemitério de Pianos” que me deslumbrou. A história é simples, com uma personagem real (Francisco Lázaro, o atleta português que morreu na maratona de Estocolmo em 1912), é a história de uma família portuguesa….
Mas estamos a falar de José Luís Peixoto, e na sua escrita nada é simples, tudo é profundo e intenso, as descrições são tocantes e as vidas estão inundadas de sensibilidade e angústia. Neste livro em particular existem pequenos pormenores que são verdadeiros diamantes e um grande segredo que nos fascina quando o descobrimos.
Foi exactamente no excerto que escolhi que descobri o grande ciclo que o livro apresenta.
“ O mármore era mais frio do que a sombra. E o meu irmão ficava à espera enquanto o homem acertava com o funil no gargalo da garrafa e enquanto o barulho do vinho que escorria do barril soava único na taberna vazia. Abria a palma da mão onde guardava a moeda transpirada e fazia de novo o caminho para casa. Ao rés da parede, o seu rosto era sério enquanto caminhava. O seu olho esquerdo fixava um ponto que não existia e que estava á sua frente. Avançava com essa influência. No lado direito da cara, tinha a pálpebra pousada sobre a órbita vazia. A pálpebra afundava-se no buraco liso que ligava a face à sobrancelha. Há uma mão negra que me aperta o coração.”
BERTRAND EDITORA
315 páginas
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