terça-feira, 23 de março de 2010

O DEUS DAS PEQUENAS COISAS Ѳ Arundhati Roy

Porque a paixão pelos livros não é só minha e não sou só eu que os consigo descrever…

Porque li este livro há muitos anos e embora tenha adorado sinto que não faria o comentário ideal…

Porque acho que a Rita o conseguiu fazer muito bem…

Mas acima de tudo porque:

é especial quando aparecem laços de onde menos se espera…

é fantástico quando não se deixam morrer…”




By Rita Viegas:

Passado na Índia dos anos 60 e 70, “O Deus das Pequenas Coisas” é um belo e comovente romance que narra a história dos membros de três gerações de uma família indiana: dois gémeos, a sua mãe, o seu tio, os seus avós e uma tia-avó.

A história desenrola-se em volta de um acontecimento trágico, a morte acidental de uma jovem inglesa prima dos gémeos, sendo os acontecimentos que o antecedem e precedem descritos alternadamente sob a perspectiva de cada um dos membros desta família.

É um livro composto por uma descrição minuciosamente elaborada que quase nos faz sentir verdadeiramente o que cada personagem sente ou vê, especialmente quando a história se centra na infância de algum dos gémeos, já que é descrita exactamente como estes a interpretam, sendo esta passagem um dos exemplos disso:

Rahel gelou. Estava tremendamente arrependida do que dissera. Não sabia donde tinham vindo aquelas palavras. Não sabia que as tinha dentro de si. Mas agora já tinham saído e não iam voltar para dentro. Pairavam naquela escadaria vermelha como funcionários num estabelecimento governamental. Uns de pé, outros sentados, sacudindo as pernas.”

Além disto, as ricas descrições são também construídas através de repetições de uma ou mais palavras, com o uso de maiúsculas nas palavras consideradas importantes pelas personagens ou com o uso de parágrafos entre palavras, transmitindo uma sensação de realidade intensa nos leitores, como é exemplo esta passagem:

“Na varanda das traseiras da Casa da História, enquanto o homem que amavam era agredido e despedaçado, a Sra. Eapen e a Sra Rajogapalan, Embaixadoras Gémeas de Sabe-Deus-O-Quê, aprenderam duas lições.

Lição Número Um:

O sangue mal se nota num Homem Preto

E

Lição Número Dois:

Cheira, Porém.

Enjoa-doce.

Como rosas vermelhas na brisa.”

No entanto, para além das poderosas descrições, também os diversos temas que são abordados, como os amores impossíveis, as injustiças sociais, o Marxismo, a inocência da infância e a importância de todas as pequenas coisas fazem deste um excelente livro para se ler. Aconselho-o portanto a todos os amantes de literatura, uma vez que é um livro que nos mostra como todos os pequenos pormenores ou acontecimentos, por muito insignificantes que nos possam parecer, podem acabar por mudar drasticamente a vida de qualquer um.

Edições Asa

304 páginas

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terça-feira, 16 de março de 2010

A Rapariga Que Roubava Livros Џ MARKUS ZUSAK


Este livro é um pequeno tesouro pela imensidão da sua beleza. Conta a história de uma menina alemã na Alemanha da segunda guerra mundial, fala um pouco de tudo, do frio, da fome, da repressão, dos comunistas, dos judeus… da guerra…

Para falar de todas estas desgraças ninguém melhor do que a morte, a narradora. Mas não são estas desgraças que preenchem o livro e surpreendemo-nos ao notar que a morte é muito mais interessante do que parece. Ela que só está presente nos últimos momentos da nossa vida repara em muito mais do que isso: repara na cor do céu, repara no aspecto de quem leva, no peso da sua alma e observa aqueles que ficam para trás.

Quanto à rapariga que roubava livros é uma criança que passa por várias situações traumatizantes, cruza-se, infelizmente, algumas vezes com a narradora, mas consegue rodear-se de pessoas que a amam e que estão dispostas a fazer as coisas mais estranhas por ela… é uma sobrevivente…

“Primeiro as cores

Depois os humanos

É geralmente assim que eu vejo as coisas.

Ou, pelo menos, tento.

EIS UM PEQUENO FACTO

Vocês vão morrer

Para falar francamente, estou a tentar mostrar-me prazenteira acerca deste tópico, embora a maioria das pessoas sinta dificuldade em me acreditar, por muito que eu proteste. Por favor, confiem em mim. Eu posso ser definitivamente prazenteira. Posso ser amável. Agradável. Afável. E isso só nos A’s. Só não me peçam para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo.

REACÇÃO AO FACTO ACIMA MENCIONADO

Isto preocupa-os?

Peço-lhes – não tenham medo.

Sou seguramente justa.

É claro, uma apresentação.

Um começo.

Que é feito das minhas boas maneiras?

Podia apresentar-me devidamente, mas não é de facto necessário. Vocês conhecer-me-ão suficientemente depressa, dependendo de um amplo leque de variáveis. Basta dizer que em determinado ponto do tempo, me encontrarão debruçada sobre vós, tão jovial quanto possível. A vossa alma estará nos meus braços. No meu ombro pousará uma cor. Levar-vos-ei docemente comigo.”

É assim que este livro começa, espero que não se tenham assustado com a objectividade da morte e que tenham ficado curiosos com o que vem a seguir…

462 páginas

Editorial Presença


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