sábado, 2 de julho de 2022

A Gorda °° Isabela Figueiredo


Em primeiro lugar é indispensável enaltecer a coragem, a enorme coragem de mostrar de forma pública todo um lado vulnerável recheado de intimidade e/ou desconforto.

Eu falo por mim, deixo para o que é público (como neste momento) situações boas, de tomada de posição ou de indignação, guardo o lado lunar para um punhado, cada vez mais pequeno, de pessoas... Talvez (de certeza) ainda não tenha conseguido descolar-me suficientemente de todos os padrões sociais, ou talvez seja (também) uma questão de personalidade, ou talvez o caminho seja o inverso, mergulhar nesse desconforto ajuda a descolar. Independentemente da causa ou do efeito a coragem é enorme e precisa de ser enaltecida.

Depois temos a mulher, que tem de ser perfeita, que continua a ter de ser perfeita. Mesmo depois de tanta luta por direitos e tratamento digno, depois de tanto reconhecer a utopia e a crueldade de se usarem "top models" como modelo, a mulher continua a ter de ser perfeita. É claro que é discutível a própria posição de não exigir perfeição de uma mulher (principalmente em surdina)... é discutível?? Hoje em dia tudo é discutível... só que não, é utópico e cruel (ponto final) 

Por fim temos o amor. Somos mesmo todos diferentes e amamos todos de forma diferente. Mas todos nós amamos. A Luísa ama de uma forma tão inconstantemente permanente. É intenso e requer toque e cheiro. É tocante e desafiante. A Luísa é uma força da natureza do amor. 

"Só cor, luz e calma. Sinto-me bem. <<Não quero parar de viver. Nunca! Quero para sempre a experiência deste momento e de outros que virão e agora desconheço.>> A declaração mental traz-me à mente o verso de Cesário Verde inscrito na entrada do metro da Cidade Universitária. <<Se eu não morresse, nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! >>

<<Seria interessante. Muito interessante, mesmo>>, pondero. <<Uma vida inteira talvez fosse suficiente para resolver o fogo, as brasas e as cinzas da efermidade terrena. Ou talvez não. Talvez nos fossemos envolvendo em novos fogos ao longo da eternidade. Quão eterna pode ser a eternidade? E duas eternidades?!>> Ri-me com os meus botões. <<Duas eternidades!>> Deixei escapar uma curta gargalhada. Continuava especulando sozinha, evadindo-me comigo, com as minhas conversas. <<O meu cérebro não para. Máquina maldita! Para Maria Luísa, para! Vive isto agora. Vive só isto. Mais nada. >> E obrigo-me a respirar. A focar-me nos sentidos e só neles. As flores e o seu odor. A luz ainda mansa que não me fere os olhos. "

Caminho


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