Adorei…
Fez-me sentir tão pequenina… Eu que também sou professora, que também desejo que os meus alunos me ouçam e acompanhem, admito que não tenho metade da paciência e paixão de Sebastião da Gama tinha pela arte de ensinar:
“Primeira lei: acreditar no aluno. Se o campo é bom e se a semente é bem lançada, até uma inicial vontade de enganar a contraria, agindo no espírito do aluno a nossa boa-fé.”
“Ora tudo isto vem a propósito de aulas más. Aulas más são as que os rapazes não querem ouvir. Mas então – poderia eu defender-me – que culpa temos nós de os rapazes serem barulhentos, desinquietos e desatentos? É verdade que às vezes a culpa não é nossa: é toda deles, a quem mais apetecia estar na rua que na escola. Mas para isso justamente é que serve o bom professor – e o meu drama resulta de que a mim só me interessa ser bom professor. Ser bom professor consiste em adivinhar a maneira de levar todos os alunos a estarem interessados; a não se lembrarem de que lá fora é melhor.”
“Cada vez me apetece menos classificar os rapazes, dar-lhes notas, pelo que eles «sabem», Eu não quero (ou dispenso) que eles metam coisas na cabeça; não é para isso que eu dou aulas. O saber – diz o povo – não ocupa lugar; pois muito bem; que eles saibam, mas que o saber não ocupe lugar, porque o que vale, o que importa (e para isso pode o saber contribuir, só contribuir) é que eles se desenvolvam, que eles cresçam, que eles saibam «resolver», que eles possam perceber.”
Mas até mesmo Sebastião tinha as excepções… ficou mais humano aos meus olhos:
“Mas há casos em que as teorias têm de ser postas de parte. Com o Artur, é o acontece. Já experimentei tudo: zangar-me, mostrar que não passa de um palhaço, pedir-lhe em nome da minha saúde, de modo a comovê-lo, que tenha juízo. Tudo inútil.”
E não posso deixar de referir uma grande vantagem… o sonho de muitos professores:
“Graças a Deus e a outras pessoas inteligentes, não há agora, como houve até há meses, um programa rígido de Português que temos, quer queiramos, quer não, de impor aos nossos rapazes”
Atrevo-me a identificar algumas das minhas características:
“Eu nem sei como aprendi a gostar de ler. Talvez por uma predisposição interior, uma fatalidade.”
“Ora aqui têm uma coisa com que o aluno se não irrita: que o chamem de número. É a tal hereditariedade a que me referi. Em Setúbal, onde tive no ano passado coisa de duzentos alunos, eu sabia a certa altura o nome de todos eles;”
E por fim, duas frases… a grande bondade de Sebastião:
“O que eu quero é que sejam felizes”
“Bendito seja Deus, por eu ser professor!”
Edições Arrábida
261 páginas