domingo, 13 de dezembro de 2009

A Vida de Pi Ξ YANN MARTEL

A história de uma criança que consegue sobreviver em alto mar durante meses na companhia de um tigre de Bengala. Este livro é simplesmente fantástico, caracteriza o melhor possível a nossa capacidade de adaptação e mostra o quão forte é o nosso instinto de sobrevivência. Somos capazes de tudo para sobreviver, roubar, matar e, sem sombra de dúvida, imaginar…

Não, não é uma história bonita, mas passa uma mensagem de força, de fé e de esperança. Quando acabarem o livro perguntem-se, se seriam capazes de sobreviver de forma mais saudável que o Pi Patel à mesma situação.

Deixo-vos a melhor descrição que eu já li sobre o medo:

“Tenho que dizer uma coisa acerca do medo. É o único verdadeiro adversário da vida. Só o medo pode derrotar a vida. É um adversário esperto e ardiloso, que eu bem sei. Não tem decência, não respeita lei nem convenção, não mostra piedade. Vai ao nosso ponto mais fraco, que encontra com uma facilidade certeira. Começa na nossa mente. Num momento, estamos a sentir-nos calmos, seguros, felizes. E, depois, o medo, disfarçado com as vestes da dúvida afectada, introduz-se na nossa mente como um espião. A dúvida encontra descrença e a descrença procura empurrá-la. Mas a descrença é um soldado de infantaria mal armado. A dúvida vence-a sem grande dificuldade. Tornamo-nos ansiosos. A razão vem travar a batalha por nós. Somos tranquilizados. A razão está bem equipada com a última tecnologia das armas. Mas, para nosso espanto, a despeito da táctica superior e de um inegável número de vitórias, a razão é vencida. Sentimo-nos enfraquecidos, vacilantes. A nossa ansiedade torna-se pavor.

Depois, o medo trabalha todo o nosso corpo, que já está ciente de que qualquer coisa terrivelmente errada se está a passar. Já os nossos pulmões saíram voando como pássaros e os intestinos deslizaram como uma cobra. Agora a nossa língua pende morta como um gambá, enquanto o maxilar começa a galopar no mesmo sítio. Os ouvidos estão surdos. Os músculos começam a tremer, como se tivessem malária, e os joelhos abanam, como se estivessem a dançar. O coração retesa-se com demasiada força, enquanto o esfíncter se relaxa demasiado. E assim acontece ao resto do corpo. Todas as partes do corpo, da maneira mais própria de cada uma delas, se desintegram. Só os olhos funcionam bem. Eles dão sempre a devida atenção ao medo.”

Difel

344 páginas

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