A Ilha é
um local onde os leprosos vivem, é para lá que vão quando mostram sintomas da
doença. Abandonam maridos, esposas, filhos, filhas, amigos, casas, vidas para
serem exilados nesta pequena ilha árida e pedregosa tão vulnerável aos
caprichos da natureza.
O que mais
me impressionou neste livro foi a decisão e capacidade da autora de tornar este
local organizado, pacífico, habitável, quase confortável. Achei maravilhosa
esta visão tão positiva e digna da humanidade perante uma situação tão dramática
como uma doença mortal e contagiosa. Não consegui deixar de comparar com o
mundo apresentado por Saramago no “Ensaio sobre a cegueira”… e a verdade é que
o ser humano tem esses dois lados: a luz com a solidariedade, o companheirismo,
a empatia e o amor; e as trevas com a inveja, o ódio, o egoísmo e o medo.
Mas a ilha
grega de Spinalonga, que neste livro é o mais importante cenário na vida da família
Petrakis, existe e existiu enquanto colónia de leprosos entre 1903 e 1962.
Parece que ao longo deste período da sua história foi um bocadinho dos dois
mundos, o do Saramago no “Ensaio sobre a cegueira” e da Victoria Hislop n’”A ilha”.
Parece que esta evolução positiva se deveu à chegada à ilha de pessoas com
alguma cultura e com uma visão de sociedade e não só individual. Parece que a
chegada destas pessoas fez toda a diferença… Talvez seja uma boa estratégia
procurar este tipo de pessoas em cada uma das nossas ilhas.
“A saída
de Maria da escuridão do túnel para o novo mundo foi uma grande surpresa para
ela, tal como para qualquer recém-chegado. Apesar das cartas da mãe, que
estavam cheias de descrições e de colorido, nada a tinha preparado para aquilo
que ela agora via. Uma longa estrada com uma fila de lojas, todas com portadas
recentemente pintadas, casas com floreiras à janela e vasos cheios de gerânios
de floração tardia, e uma ou duas casas mais imponentes com balcões de madeira
torneada. Apesar de ainda ser demasiado cedo para as pessoas estarem a pé,
havia um madrugador. O padeiro. A fragância do pão e dos bolos acabados de
cozer enchiam a rua.”
408
páginas
Civilização
Editora