segunda-feira, 4 de março de 2019

A Ilha ∾ Victoria Hislop



A Ilha é um local onde os leprosos vivem, é para lá que vão quando mostram sintomas da doença. Abandonam maridos, esposas, filhos, filhas, amigos, casas, vidas para serem exilados nesta pequena ilha árida e pedregosa tão vulnerável aos caprichos da natureza.
O que mais me impressionou neste livro foi a decisão e capacidade da autora de tornar este local organizado, pacífico, habitável, quase confortável. Achei maravilhosa esta visão tão positiva e digna da humanidade perante uma situação tão dramática como uma doença mortal e contagiosa. Não consegui deixar de comparar com o mundo apresentado por Saramago no “Ensaio sobre a cegueira”… e a verdade é que o ser humano tem esses dois lados: a luz com a solidariedade, o companheirismo, a empatia e o amor; e as trevas com a inveja, o ódio, o egoísmo e o medo.
Mas a ilha grega de Spinalonga, que neste livro é o mais importante cenário na vida da família Petrakis, existe e existiu enquanto colónia de leprosos entre 1903 e 1962. Parece que ao longo deste período da sua história foi um bocadinho dos dois mundos, o do Saramago no “Ensaio sobre a cegueira” e da Victoria Hislop n’”A ilha”. Parece que esta evolução positiva se deveu à chegada à ilha de pessoas com alguma cultura e com uma visão de sociedade e não só individual. Parece que a chegada destas pessoas fez toda a diferença… Talvez seja uma boa estratégia procurar este tipo de pessoas em cada uma das nossas ilhas.
“A saída de Maria da escuridão do túnel para o novo mundo foi uma grande surpresa para ela, tal como para qualquer recém-chegado. Apesar das cartas da mãe, que estavam cheias de descrições e de colorido, nada a tinha preparado para aquilo que ela agora via. Uma longa estrada com uma fila de lojas, todas com portadas recentemente pintadas, casas com floreiras à janela e vasos cheios de gerânios de floração tardia, e uma ou duas casas mais imponentes com balcões de madeira torneada. Apesar de ainda ser demasiado cedo para as pessoas estarem a pé, havia um madrugador. O padeiro. A fragância do pão e dos bolos acabados de cozer enchiam a rua.”

408 páginas
Civilização Editora