quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

três homens num barco → Jerome K. Jerome






Uma celebração à mediocridade, à ausência de autocrítica e à ausência de empatia que só se torna suportável e até divertida porque se conclui (espero que não erradamente) que tudo é uma ironia.

A incapacidade de autoanálise e auto culpa em George, Harry e Jerome em todas as experiências que lhes correm mal é uma oportunidade de reflexão para nós… leitores.

Será que depois de lermos a mesma experiência relatada, pela mesma pessoa das duas perspetivas o mais opostas possíveis, de forma arrogante e cheia de razão, somos capazes de admitir que somos também capazes de o fazer?
Será que depois de lermos a validação de se ser snobe através da utilização da moral, dos bons costumes e das caraterísticas estereotipadas dos restantes grupos sociais, sentimos que é errado fazê-lo?

Pelo menos parece-me difícil não notar que este desafio está presente no livro.

Mas… talvez esteja a fazer uma análise demasiado séria de uma história recheada de episódios mirabolantes que nos arrancam muitos sorrisos e algumas gargalhadas… Só por isso já vale a pena lê-la.

Escolhi um excerto que não me agrada particularmente… e escolhi-o exatamente por isso!!

“De todas as aventuras ligadas à sirga, a mais excitante é ser-se rebocado por raparigas. É uma sensação que ninguém deve perder. São sempre necessárias três raparigas para sirgar; duas seguram no cabo e a terceira corra às voltas a dar risadinhas. Geralmente, começam por enrolar o cabo. Ficam com a corda enrolada nas pernas e têm de se sentar no caminho para se desenrolarem umas às outras, e depois embrulham-se nela praticamente até ao pescoço e quase são estranguladas. Finalmente lá conseguem esticar a sirga e começam a puxar o barco, como se fosse uma corrida, a uma velocidade deveras perigosa. Claro que ao fim de uns cem metros estão sem fôlego, param de repente, e sentam-se na relva a rir à gargalhada. Enquanto isso, o barco escapa-se e volta à deriva para o meio da corrente e dá uma volta, antes de termos tempo de perceber o que é que aconteceu ou de pegarmos num remo. E aí elas levantam-se com um ar surpreendido.”

224 páginas
Alma dos livros