quarta-feira, 1 de março de 2017

O Quarto de Jack # Emma Donoghue




Recebi este livro como presente de Natal há uns anos, mas depois de ler algumas páginas fechei-o sem forças para o ler… a maldade e a morbidez deixam-me mal disposta e embora goste de ler livros que desafiam as minhas sensações, achei que este era uma provação…

Em 2015 saiu o filme… e mais uma vez fugi da história… Mas este ano ao ser recordada que o Óscar de melhor atriz foi dado à Mamã deste filme ganhei coragem e voltei a pegar nele.
Mas usufruindo do segundo direito do leitor (de Daniel Pennac): “O direito de saltar páginas”, só peguei no livro para ler o depois… a vida depois de sair do quarto.

Não acho extraordinário o amor que existe entre esta mãe e este filho, nem acho extraordinário a capacidade de adaptação e de sobrevivência que o Jack demonstra. E quando digo extraordinário refiro-me a ser fora do normal, não, não é fora do normal… as crianças felizmente têm uma capacidade de uma sobrevivência saudável completamente fora do normal… e o amor… é o amor incondicional que felizmente a grande maioria das mães e filhos conseguem sentir, é aquele amor que faz com que as mães abram mão de muita coisa a pensar no bem-estar dos seus filhos e faz com que os filhos olhem para as mães como as mulheres mais bonitas do mundo e a melhor pessoa com quem se pode estar.
O que eu acho extraordinário é a força com que a palavra recomeço surge associada a estes sentimentos… A beleza das personagens e a beleza da relação que está escrita de uma forma que nos apela aos sentidos mostra-nos que cada hora, cada dia, cada semana fora do quarto ou no mundo é um passo que se dá, é um degrau que se sobe, é algo que se conhece.
É incrível que depois de uma história destas fiquemos com a forte sensação colada dentro de nós de que tudo é um milagre em vez de acreditarmos que não há milagres.

“No mundo, reparo que as pessoas estão quase sempre enervadas e não têm tempo. Até a Avó diz isso muitas vezes, mas ela e o Avô Emprestado não têm empregos, por isso não sei como é que as pessoas com trabalhos conseguem trabalhar e também vier. No Quarto eu a Mamã tínhamos tempo para tudo. Se calhar o tempo espalhado pelo mundo fica muito fino como manteiga, espalha-se pelas entradas e pelas casas e pelos parques infantis e pelas lojas, por isso só existe uma pequena mancha de tempo em cada sítio e depois têm todos de se apressar para o próximo sítio.
Além disso, onde quer que veja crianças, os adultos quase nunca parecem gostar delas, nem sequer os pais. Dizem que as crianças são lindas e tão queridas, fazem com que a criança faça tudo de novo para tirarem uma fotografia, mas na verdade não querem brincar com elas, preferem beber café e falar com outros adultos. Por vezes, uma criança pequena está a chorar e a Mamã dela nem sequer a ouve.”

332 páginas
Porto Editora

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