sábado, 12 de outubro de 2013

A possibilidade de uma ilha + Michel Houellebecq


Sobre o autor limito-me a corroborar a opinião de um grande amigo meu e da opinião pública de que se trata de um negativista, estando as suas características de provocador, fatalista e pessimista presentes neste livro.

O livro apresenta-nos a narrativa de vida de Daniel1 que vai sendo lida e complementada por dois dos seus clones Daniel24 e Daniel25 que existem 1000 anos depois. Daniel24 e Daniel25 são já chamados neo-humanos devido a algumas alterações físicas que foram sendo feitas com o objectivo de melhorar a autonomia e sustentabilidade da espécie acabando por retirar alguma da “angustia” do ser humano.

Confesso que não me identifico com posturas negativistas, reconheço que existe uma luta constante entre o mal e o bem, provocada essencialmente pelo ser humano, mas no fundo tenho a esperança que no final o bem vencerá, aliás, na minha opinião, o bem vem vencendo desde sempre, basta olharmos para aquilo que fomos e que somos.
No entanto, gosto de ler livros futuristas que consigam apresentar uma teoria para a nossa evolução que tenha, no mínimo, um fio condutor.

Mas voltando á obra… Michel Houellebecq apresenta-nos a humanidade dos nossos dias de uma forma crua e nada bonita, não deixa de ser realista mas é duvidável a generalização que pretende transmitir. Em certos momentos aparecem raios de luz no meio de uma descrição tão cinzenta mas, contra minha vontade, acabam por desaparecer algumas páginas depois.
A humanidade e neo-humanidade que existem um milénio depois, estão imensamente separados física, psicológica e comportamentalmente. Não vou adiantar muito sobre esse futuro longínquo, uma vez que vai sendo desvendado ao longo do livro e suscita a nossa curiosidade mas não resisto a colocar um pedaço das divagações de Daniel25:

“Por vezes, de noite, levanto-me para observar as estrelas. Transformações climáticas e geológicas de grande extensão remodelaram a fisionomia da região, como a da maior parte das regiões do mundo, durante os dois últimos milénios; o brilho e a posição das estrelas, o seu agrupamento em constelações são sem dúvida os únicos elementos naturais que, desde o tempo de Daniel1, não sofreram nenhuma transformação. Acontece-me, quando à noite observo o céu, pensar nos Eloim, nessa estranha crença que viria afinal, por portas travessas, a desencadear a Grande Transformação. Daniel1 revive em mim, o seu corpo sofre uma nova encarnação, os seus pensamentos são os meus, as suas recordações as minhas; a sua existência prolonga-se realmente em mim, bem mais do que qualquer homem alguma vez sonhou prolongar-se através da sua descendência. No entanto, a minha própria vida, como muitas vezes penso, está muito longe de ser a que ele teria gostado de viver.”


393 páginas
Dom Quixote