quinta-feira, 27 de maio de 2010

Siddhartha - Hermann Hesse


By Rita Viegas:

Quantos de nós não nos deparámos, inevitavelmente, com questões existenciais? Quantos não procuraram, provavelmente em vão, um significado ou uma explicação para a nossa razão de viver? Quantos não se questionaram, pelo menos uma vez na vida, com uma destas perguntas, que assombram o ser humano desde os primórdios da sua existência?

Siddhartha, um romance passado na Índia no século VI a.C., leva-nos a acompanhar a viagem do próprio Siddhartha em busca destas respostas, ao longo de toda a sua vida.

A história inicia-se ainda na sua juventude, com a partida de casa dos pais e de todo o conforto que esta representa para ir viver com os Samanas, um grupo de seguidores do Buda que vive afastado dos privilégios e comodismos da vida, acreditando que assim poderá atingir a sabedoria e felicidade supremas. Mas, passado algum tempo, Siddhartha apercebe-se que apesar de ter aprendido a jejuar, esperar e pensar, de ter ouvido as doutrinas dos considerados grandes sábios e de ter seguido todos os seus ensinamentos, nunca poderá atingir a verdadeira sabedoria a não ser que ele próprio viva e experimente tudo o que a vida tem para oferecer. Parte, então, para a cidade, onde, apesar do bom motivo inicial, acaba por perder-se nos vícios citadinos, no vinho e nos jogos de azar, quase esquecendo o propósito da sua viagem. Não obstante, numa idade já avançada, a sua vida ganha um novo rumo e este passa a viver novamente isolado dos privilégios e vícios da sociedade, retornando a sua procura.

Apesar de este ser um livro que é por muitos adorado por ser uma espécie de guia espiritual, já que a história é narrada sobretudo em função dos pensamentos e reflexões da personagem ao longo da sua busca pela plenitude espiritual, para mim foi um livro que me marcou de alguma forma por abordar uma série de questões de uma maneira bela e simples, como as anteriormente referidas, mostrando-nos que estas são universais.

Um outro aspecto que muito me agradou no livro foi a sua intemporalidade, já que, apesar de a história se passar no século VI a.C. e de ter sido escrita em 1922, a forma como é narrada e as questões que aborda levam-nos a acreditar que podia perfeitamente passar-se hoje em dia, sofrendo apenas algumas alterações no cenário.

Este é um livro que, apesar de pequeno e de ter sido escrito de uma forma aparentemente simplista, apresenta uma profundidade fora do comum que nos leva a uma reflexão sobre o propósito da nossa existência, ainda que não transmita uma resposta para este problema.

“Tudo isto são coisas, coisas que nós podemos amar. Mas não posso amar palavras. É por isso que não aprecio as doutrinas, não têm dureza ou moleza, não têm cores, não têm cheiro, não têm gosto, nada têm senão palavras. Talvez seja isso que te impede de encontrares a paz, talvez sejam as palavras em excesso. Porque também libertação e virtude, também Samsara e Nirvana são meras palavras. Nada existe que seja o Nirvana: apenas existe a palavra Nirvana.”

Prémio Nobel de Literatura 1946

Casa das letras

156 páginas



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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Conversa n’A Catedral Љ Mario Vargas Llosa


Aqui está mais um grande livro de leitura, sem dúvida, obrigatória. Fez-me lembrar António Lobo Antunes pelo emaranhado das histórias.

Não é de leitura fácil, mas eu gosto de puzzles e desafios e por isso não descansei enquanto não ordenei a história de Santiago Zavala, de Cayo Bermúdez e muitas outras personagens, umas reais e outras não.

O Peru oprimido, corrupto, triste e desigual que nos é apresentado afecta Santiago, filho de uma família de bem, que não se identifica com essa postura e que procura eternamente paz interior.

O livro está repleto de personagens autênticas, mostra que em muitas situações, para protegerem alguém que amam, os bens que construíram ou a posição que alcançaram, são obrigadas a abrir mão dos seus princípios e não deixa de ser legítimo porque se não o fizerem alguém o fará a seguir.

Mário Vargas Llosa afirma:

“Se tivesse de salvar do fogo apenas um dos [romances] que escrevi, salvaria este.”

Ainda não li mais nenhum deste senhor, mas concordo que este livro merece ser salvo de qualquer fogo.

D. Quixote

630 páginas


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segunda-feira, 3 de maio de 2010

JONATHAN STRANGE & O SR NORREL † Susanna Clarke


Por vezes sinto que me sobrestimo quando me acho capaz de comentar os grandes livros que encontro. Este livro é rico em tantos aspectos que temo esquecer um essencial ao descrevê-lo.

Jonathan Strange & o Sr Norrel é um livro sobre a magia que reaparece em Inglaterra depois de esta ter desaparecido com o Rei Corvo. Acredito que se a magia realmente existisse seria tal e qual Susanna Clarke a descreve: misteriosa, complexa, difícil de descrever e explicar e praticamente impossível de controlar.

As sensações que o livro me transmitiu foram mudando gradualmente à medida que fui avançando… Inicialmente não percebia como é que a escritora tinha resolvido criar um mundo mágico tão completo e fantástico para ter como principais personagens dois homens cheios de enormes defeitos. Perguntava-me se não era “obrigatório” que o bem estivesse nitidamente dividido do mal e que a responsabilidade das personagens principais não fosse proteger as outras… Pelo menos é isto que costuma acontecer quando misturadas com as simples vidas humanas existem pessoas com fantásticos poderes… Mas fui continuando a ler e a magia continuou a aumentar e fiquei completamente presa a este livro. Por fim, concluí que ninguém no livro é mais extraordinário do que outro, todas as personagens são extremamente completas e preenchidas com as simples qualidades e defeitos humanos.

“Dois magos surgirão em Inglaterra…

O primeiro recear-me-á; o segundo desejará muito contemplar-me.

O primeiro será governado por ladrões e assassinos; o segundo conspirará para a sua própria destruição.

O primeiro enterrará o seu coração num bosque escuro sob a neve, contudo ainda sentirá o seu latejar.

O segundo verá o seu bem mais querido nas mãos do seu inimigo…

O primeiro passará a sua vida sozinho; será o seu próprio carcereiro.

O segundo percorrerá estradas solitárias, a tempestade por cima da sua cabeça, procurando uma torre escura num monte alto…

Estou sentado num trono negro nas sombras, mas eles não me verão.

A chuva fará uma porta para mim e passarei através dela.

As pedras farão um trono para mim e sentar-me-ei nele…

O escravo sem nome usará uma coroa de prata

O escravo sem nome será rei num país estranho…”

Casa das Letras

733 páginas

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