terça-feira, 30 de novembro de 2010

Beatriz e Virgílio Ξ YANN MARTEL

Mais uma vez Yann Martel, mais uma vez um grande livro.

Yann Martel tem o hábito de preencher os seus livros com personagens que têm a capacidade de mostrar o que o ser humano tem de melhor, pior e mais estranho.

Não, não é uma história bonita, a Beatriz com a sua doçura e o Virgílio com a sua energia retratam-nos extraordinariamente bem o Holocausto.

Na realidade o livro tem duas histórias, a de Beatriz e de Virgílio que em alguns momentos é simples, noutros romântica e infelizmente assustadora, e a do taxidermista que os embalsamou, uma personagem misteriosa absolutamente negra e Henry um escritor sem inspiração.

Deixo-vos excertos da melhor descrição que eu já li sobre uma pêra:

“VIRGÍLIO: Uma pêra madura transborda de suculência doce.

BEATRIZ: Oh, isso parece bom.

VIRGÍLIO: Corta uma pêra e verás que a sua polpa é de um branco incandescente. Brilha com uma luz interior. Aqueles que trazem consigo uma faca e uma pêra nunca têm medo do escuro.

BEATRIZ: Tenho de provar uma.

VIRGÍLIO: A textura de uma pêra, a sua consistência, é outra coisa difícil de pôr em palavras. Algumas peras são um tudo-nada crocantes.

(…)

VIRGÍLIO: O sabor de uma pêra é tal que, quando se come, quando os nossos dentes mergulham na beatitude da polpa, isso torna-se uma actividade absorvente. Não se quer fazer mais nada além de comer a nossa pêra. Prefere-se estar sentado do que em pé. Prefere-se estar só do que acompanhado. Prefere-se o silencio à música. Todos os sentidos, excepto o paladar, ficam inactivos. Não se vê nada, não se ouve nada, não se sente nada… ou apenas na medida em que nos ajude a apreciar o sabor divinal da nossa pêra.”

Editorial Presença

169 páginas


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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pantaleão e as Visitadoras Љ Mario Vargas Llosa


É impossível ler este livro sem estar constantemente com um sorriso nos lábios ou soltar fortes gargalhadas em vários momentos da história.

O argumento, só por si é insólito: um oficial do exército é contratado pelos seus superiores para organizar um serviço de prostitutas e com isso aplacar as necessidades dos militares isolados na selva amazónica.

Pantaleão… era impossível escolher alguém melhor para esta função, alguém que não gostava de sair à noite, não apreciava bebidas alcoólicas nem nunca tinha entrado num bordel, mas uma das pessoas mais eficientes e organizadas dispostas e levar as regras de um regimento para todo o lado… até para um serviço de visitadoras.

Mario Vargas Llosa faz o resto, mais uma vez, não resiste a misturar vários momentos da história, divididos por relatórios e programas de rádio que de tão acutilantes e despropositados a sua leitura torna-se um momento único.

Aqui temos o hino escrito pelas famosas Visitadoras:

“Refrão:
Servir, servir, servir
O Exército da Nação
Servir, servir, servir
Com muita dedicação

Tornar felizes os soldadinhos
- Corram e saltem, Chuchupinhas!-
Os sargentos e os cabinhos,
É a nossa honrosa missão.

(Refrão)

Assim vamos, todas satisfeitas,
Nos comboios do nosso Serviço
- Sem brigar, sem fazer desfeitas-,
com o Chininha, a Chuchupe ou o Chupão.

(Refrão)

Na terra, no beliche, na relva
Do quartel, do campo ou o que for,
Damos beijos, abraços e tudo.
Às ordens do superior.

(Refrão)

Vamos por selvas, rios e charcos,
Nem do leão, do puma ou do tigre
Nós temos qualquer temor.
Porque nos sobra patriotismo,
Como ninguém fazemos amor.

(Refrão)

E agora psiu! Visitadoras,
Que temos que ir trabalhar,
A Dalia está à espera
E a Eva doida por largar.

Adeus, adeus, adeus
Chininha, chuchupe e Chupão,
Adeus, adeus, adeus
Senhor Pantaleão”

Mais palavras para que, aqui temos o Nobel de Literatura de 2010.

D. Quixote

261 páginas

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A SOMBRA DO VENTO ◊ CARLOS RUIZ ZAFÓN


A Sombra do Vento é um livro excepcional, classifico-o como o livro mais surpreendente e envolvente que já li.

Barcelona foi o cenário escolhido, a cidade ideal para fundir edifícios, pessoas, sentimentos e livros. Ao ler o livro consegui visualizar uma Barcelona misteriosa, coberta de nevoeiro, cheia de sítios assombrados e lugares secretos.

O livro escolhido por Daniel no mágico Cemitério dos Livros Esquecidos (A Sombra do Vento de Julián Carax) provoca uma mudança radical na sua vida. Histórias antigas são descobertas e com elas aparecem as suas personagens que necessitam de um caminho.

Carloz Ruiz Zafón surpreendeu quanto apresentou o seu primeiro romance para adultos. A sua escrita é fluida mas magnetizante e a história não é contada mas sim revelada. Por mais que o leitor tente desvendar os mistérios apresentados, faça suposições ou construa hipóteses, a verdade é sempre muito mais fascinante e surpreendente.

“- Este lugar é um mistério Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas sua páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. Há já muitos anos, quando o meu pai me trouxe pela primeira aqui, este lugar já era velho. Talvez tão velho como a própria cidade. Ninguém sabe de ciência certa desde quando existe, ou quem o criou. Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, os que conhecemos este lugar, os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui. Neste lugar, os livros que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar um dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. Agora só nos têm a nós, Daniel. Achas que vais poder guardar este segredo?”

507 páginas

Dom Quixote


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