segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

CAPITÃES DA AREIA ι JORGE AMADO


Neste livro, Jorge Amado, descreve de forma concreta a vida de um grupo de crianças de rua. Vidas difíceis cheias de privações em todos os campos. Mostra a falta de oportunidades que estas crianças têm e o enorme medo de acreditarem nas poucas que aparecem.

Ao longo do livro percebemos que são crianças, apenas crianças, várias carentes, muitas traumatizadas e revoltadas, algumas líderes, poucas puras, todas sonhadoras. Os sentimentos dos quais foram privados: amizade, partilha, amor… nascem nesta família “Capitães da Areia” formada por todos.

O excerto que escolhi retrata a surpresa do “Sem-Pernas” quando é acolhido por uma família:

“Mas desta vez estava sendo diferente. Desta vez não o deixaram na cozinha com os seus molambos, não o puseram a dormir no quintal. Deram-lhe roupa, um quarto, comida na sala de jantar. Era como um hóspede, era como um hospede querido. E fumando o seu cigarro escondido (o Sem-Pernas pergunta a si mesmo por que está se escondendo para fumar), o Sem-Pernas pensa sem compreender. Não compreende nada do que se passa.”

O enorme medo que tinha em acreditar que estas pessoas estavam dispostas a dar-lhe tudo, aliado à responsabilidade de pertencer aos Capitães da Areia fez com que ele não se esquecesse do motivo pelo qual entrou naquela casa: assalta-la.

BIIS

Leya

280 páginas


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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

VENCER OS MEDOS ζ JOÃO PAULO COTRIM

Esta semana queria trazer um livro mais leve, diferente. Nada melhor do que banda desenhada para isso…

Os oito objectivos do milénio que correspondem a oito histórias diferentes, ilustradas divinalmente por oito pessoas diferentes, contadas pela mesma personagem: a Maria.

Uma miúda que anda de bicicleta e compõe melodias mas está atenta, muito atenta, ao mundo que a rodeia.

Talvez o livro seja muito optimista, talvez seja mais difícil encontrar uma solução para todos os problemas do mundo, mas concordo que temos que ter esperança, acreditar e fazer parte da mudança.

No início do livro:

“Tenho que guardar estes restos de canções. Ficam agarrados a mim como um cheiro. E são também imagens, frases, gestos, ideias, fragmentos. Devo estar a passar-me. Vou começar um diário… melhor ainda: gravar um diário.”

No fim do livro:

“Está decidido: na vez de diário, farei uma lista de medos.

E depois vestirei a pele do mais ordinário dos super-heróis que salvará o mundo de bicicleta e cheio de dúvidas.

O mundo é a minha casa.”

Assírio & Alvim

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domingo, 13 de dezembro de 2009

A Vida de Pi Ξ YANN MARTEL

A história de uma criança que consegue sobreviver em alto mar durante meses na companhia de um tigre de Bengala. Este livro é simplesmente fantástico, caracteriza o melhor possível a nossa capacidade de adaptação e mostra o quão forte é o nosso instinto de sobrevivência. Somos capazes de tudo para sobreviver, roubar, matar e, sem sombra de dúvida, imaginar…

Não, não é uma história bonita, mas passa uma mensagem de força, de fé e de esperança. Quando acabarem o livro perguntem-se, se seriam capazes de sobreviver de forma mais saudável que o Pi Patel à mesma situação.

Deixo-vos a melhor descrição que eu já li sobre o medo:

“Tenho que dizer uma coisa acerca do medo. É o único verdadeiro adversário da vida. Só o medo pode derrotar a vida. É um adversário esperto e ardiloso, que eu bem sei. Não tem decência, não respeita lei nem convenção, não mostra piedade. Vai ao nosso ponto mais fraco, que encontra com uma facilidade certeira. Começa na nossa mente. Num momento, estamos a sentir-nos calmos, seguros, felizes. E, depois, o medo, disfarçado com as vestes da dúvida afectada, introduz-se na nossa mente como um espião. A dúvida encontra descrença e a descrença procura empurrá-la. Mas a descrença é um soldado de infantaria mal armado. A dúvida vence-a sem grande dificuldade. Tornamo-nos ansiosos. A razão vem travar a batalha por nós. Somos tranquilizados. A razão está bem equipada com a última tecnologia das armas. Mas, para nosso espanto, a despeito da táctica superior e de um inegável número de vitórias, a razão é vencida. Sentimo-nos enfraquecidos, vacilantes. A nossa ansiedade torna-se pavor.

Depois, o medo trabalha todo o nosso corpo, que já está ciente de que qualquer coisa terrivelmente errada se está a passar. Já os nossos pulmões saíram voando como pássaros e os intestinos deslizaram como uma cobra. Agora a nossa língua pende morta como um gambá, enquanto o maxilar começa a galopar no mesmo sítio. Os ouvidos estão surdos. Os músculos começam a tremer, como se tivessem malária, e os joelhos abanam, como se estivessem a dançar. O coração retesa-se com demasiada força, enquanto o esfíncter se relaxa demasiado. E assim acontece ao resto do corpo. Todas as partes do corpo, da maneira mais própria de cada uma delas, se desintegram. Só os olhos funcionam bem. Eles dão sempre a devida atenção ao medo.”

Difel

344 páginas

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domingo, 6 de dezembro de 2009

EU HEI-DE AMAR UMA PEDRA ¤ ANTÓNIO LOBO ANTUNES


Um livro repleto de personagens complexas que acima de tudo precisam de amor e tentam encontrá-lo, algumas não da melhor forma. São vidas completas, cheias de episódios entrelaçados, que o Lobo Antunes entrelaça ainda mais, misturando situações, recordações, sentimentos e traumas. Vidas comuns com uma profundidade e ansiedade viciante.

O livro é um desafio pela descoberta das personagens mas acima de tudo pela forma como está escrito.

Lobo Antunes troca de narrador dentro da mesma frase, num dos capítulos só na quinta página descobri quem era o narrador, os diálogos estão misturados com pensamentos e as histórias não têm seguimento cronológico.

“não, enganei-me, isto não comigo, com a arvéloa e da praia, a que me ordenou

-Tu é que fechas o livro

a que manda na gente ou a que mandaram que mandasse na gente, um fulano que não conheço a desesperar-se connosco, a alterar, a trocar-nos

(Não é assim gaita)

A voltar ao início, o fulano que decidiu não há muito, acho eu

- És tu que fechas o livro”

No excerto que escolhi uma das personagens refere que vai acabar o livro porque outra lho ordenou ou porque o fulano (que se trata do próprio escritor) decidiu.


DOM QUIXOTE

616 páginas


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